Quando falamos em gatilho emocional fazemos analogia ao gatilho de uma arma, ou seja, ele é o elemento que aciona o disparo de algo, neste caso, uma emoção. No caso dos gatilhos emocionais pode ser um pensamento ou acontecimento que dispare na pessoa um sentimento de emoção negativa que a faz se sentir muito mal e que, na maioria das vezes, a conduz a algum tipo de movimento de alívio e fuga, geralmente negativo, que muitas vezes piora o problema a médio e longo prazo.
As pessoas mais suscetíveis a gatilhos emocionais são as que já se encontram com algum transtorno emocional. Seja ela uma pessoa depressiva ou não, geralmente carrega traços de tristeza, insegurança, medo, ansiedade etc. Pense em uma pessoa que tem, por exemplo, insegurança em nível elevado. Ela pode estar diante dos seus colegas de trabalho e precisar fazer uma apresentação. Isso já pode ser o suficiente para disparar um gatilho de insegurança, pois ela fica pensando sobre o que vão achar da apresentação dela, que a apresentação não está boa, que ela vai gaguejar, que não é boa o suficiente ou que já houve algum problema no passado relacionado a falar em público e que isso vai se repetir naquela apresentação. Esse gatilho, além de trazer ansiedade para a pessoa, pode a conduzir a hábitos de alívio ou fuga mais brandos, como roer unha ou mexer repetidamente a perna. Entretanto, os gatilhos podem conduzir a hábitos muito mais graves.
Imagine um homem adulto que durante a infância sofreu rejeição dos responsáveis, bullying na escola e era frequentemente inferiorizado. Agora imagine que esse mesmo adulto mantém guardado em si todos esses traumas e que já casado comece a ter problemas conjugais. Mesmo que os problemas e as falas ditas durante esses problemas conjugais tenham um sentido completamente diferente, isso pode acionar os gatilhos de rejeição que aquela pessoa tem desde a infância, o fazendo, agora como adulto, tomar decisões baseadas nas emoções traumáticas. Uma pessoa que está sofrendo de uma desordem emocional pode, ao invés de resolver o problema através do diálogo, acabar buscando um caminho de fuga, pois o cônjuge pode, naquele momento, ser um daqueles mesmos “fantasmas” do passado que ele não conseguiu lutar, e para fugir disso ele pode buscar um alívio ou fuga para a situação. Poderíamos usar vários exemplos, mas neste caso vamos falar de alcoolismo. Essa pessoa, diante dessa situação, pode procurar a fuga para as suas dores e situações que não quer enfrentar, na bebida. Se esse for o instrumento de fuga escolhido para cada vez que algum gatilho de rejeição for disparado na vida dessa pessoa, ela tem grandes chances de se tornar um alcoólatra.
Usando o mesmo personagem como exemplo, vamos falar de mais gatilhos e sobre dois gêneros deles: os gatilhos externos e os gatilhos internos. Os gatilhos internos dessa pessoa são seus traumas, lembranças e inseguranças, que podem simplesmente trazer à mente dela um pensamento negativo que acionará um gatilho. Já os gatilhos externos podem ser brigas, desvalorização, como o esquecimento de seu aniversário ou de outra data importante para ela, uma palavra mais rude que ouviu, uma demissão do trabalho. Os exemplos podem ser vários e as situações e maus hábitos de fuga que a pessoa pode escolher são diversos. Muitos pacientes acabam buscando ajuda de um psicólogo para tratar o problema central e também para tratar o mau hábito que ela adquiriu como forma de fugir do problema, o que se tornou um segundo problema.
As pessoas que se encontram diante dessa situação de serem afetadas de forma muito severa por seus gatilhos emocionais devem procurar ajuda de um profissional de psicologia. Aprender a identificar os gatilhos e a se preparar quando eles vierem não significa que a pessoa não vá se sentir mal quando o gatilho for disparado, principalmente no início do processo. Aprender a identificar os gatilhos trará a possibilidade ao paciente de ter estratégias diferentes para quando eles forem disparados, e a ajuda profissional será tremendamente importante nesse plano de ação.
Suponhamos que o adulto do exemplo procure ajuda profissional e que ele ainda não tenha se tornado um alcoólatra, apesar de sempre beber muito diante de um gatilho emocional disparado. Agora ele pode ter ajuda para identificar quando um gatilho está sendo ou foi disparado, ter uma reflexão mais profunda de que aquilo pode ou provavelmente nada tem relação com os acontecimentos do passado e que, mesmo se sentindo mal, que o hábito dele diante da situação, agora pode ser transformado de um hábito de fuga para um hábito de recuperação. Psicólogo e paciente podem durante as sessões identificar os fatores ou pessoas positivas que aquela pessoa tem e que podem ajudar no processo. O paciente, por exemplo, pode ter um familiar ou amigo de confiança (ou mais de um), que fiquem cientes do problema dele e que sempre que um gatilho for disparado, ele possa recorrer a essas pessoas para conversar, ou para fazerem alguma atividades juntos. O paciente também pode resgatar talentos ou hobbies que tem, que podem substituir o hábito da bebida diante de um momento ruim, como o hábito da leitura, escrita, pintura ou desenho, prática de algum esporte, um jogo eletrônico, assistir um filme ou escutar uma música etc. Geralmente o psicólogo vai se aprofundar na questão e vai encontrar mais de um caminho para aquela pessoa, ajudando-a a criar uma rede diversa de possibilidades para esses momentos onde ela precisa mudar o foco.
Por isso, se você percebe em você uma explosão repentina diante de algumas situações (mesmo que não seja uma explosão de raiva externalizada, podendo ser apenas uma explosão de sentimentos dentro de você, que você guarda), se você nota que para fugir dos problemas você acaba tendo reações que você não gostaria de ter, você pode estar sendo vítima de gatilhos emocionais. A ajuda profissional nesse momento será muito importante, não ignore isso, e saiba que com as ações certas a melhora se dará de uma forma bem positiva, por isso procure ajuda.