Para muitos pais, é difícil lidar com as mudanças que ocorrem durante o crescimento dos filhos, mesmo quando eles ainda são muito pequenos e ainda estão longe da adolescência. No entanto, um dos maiores desafios enfrentados surge quando os filhos começam a mentir, quebrando a imagem de crianças inocentes que sempre cultivaram, como se estivessem abandonando a fase de total inocência. Neste artigo, abordarei diferentes perspectivas desse ato.
Primeiramente, é importante que os adultos façam uma distinção clara entre o que é mentira e o que é fantasia. É comum que as crianças, em determinada fase de seu desenvolvimento, aprendam a lidar com o mundo abstrato de forma fantasiosa. Elas passam a transcender o que está imediatamente à sua frente e exploram o que está além de seu campo de visão. Devido à falta de habilidade e experiência de vida, é comum que essas crianças expressem esses novos elementos por meio de coisas que existem apenas em suas mentes, criando fantasias de uma realidade que de fato não aconteceu.
O discurso fantasioso não deve ser encarado pelos adultos como mentiras, mas sim como um recurso que a criança utiliza para lidar com as abstrações que está concebendo em sua mente. É importante salientar que esse tipo de mentira muitas vezes não é compreendida pela criança como um erro, pois ela ainda não possui pleno desenvolvimento mental e psicológico para entender que a mentira, mesmo que fantasiosa em alguns casos, pode prejudicar outras pessoas ou até mesmo a ela mesma. A criança não percebe que suas palavras podem acarretar consequências. Para ela, tudo faz parte de uma construção da própria realidade, apenas. Com o tempo, é esperado que o discurso fantasioso diminua e eventualmente desapareça. Esse tipo de fala por parte da criança não deve gerar preocupação. No entanto, se o discurso fantasioso persistir por um período prolongado ou se tornar excessivamente insistente, pode estar relacionado a questões emocionais que merecem ser investigadas por um profissional qualificado.
Por outro lado, é possível que a criança minta por medo. Os adultos podem perceber que a criança mente em situações simples, como não admitir ter quebrado um objeto em casa ou ter aberto um pacote de bolacha sem permissão. Não é incomum que essas crianças mintam sobre o ocorrido devido ao medo de um castigo severo, especialmente quando lidam com responsáveis que têm esse hábito. Nesse caso, a mentira não é uma mentira em si, mas um recurso de autoproteção, pois geralmente o castigo é desproporcional ao que aconteceu ou à desobediência. Nessa perspectiva, cabe ao adulto mudar seu comportamento, mais do que a criança. A mentira, vista dessa forma, é um reflexo do medo. Ao modificar seu próprio comportamento, o adulto tranquiliza a criança, permitindo que ela se sinta mais segura para contar a verdade, sem medo de sofrer consequências desproporcionais.
Outro motivo para mentiras pode ser o receio e o medo de se expressar adequadamente. A criança pode enfrentar dificuldades em encontrar as ferramentas de autoconfiança necessárias para se expressar de forma clara e justificar suas ações, mesmo que erradas. Nesse contexto, a mentira pode se tornar um recurso mais fácil de usar. Geralmente, esse tipo de mentira está associado a uma baixa autoestima, possível depressão ou angústia. É possível que a criança tenha tentado expressar algo no passado e tenha sido ridicularizada por não se expressar adequadamente, ou tenha sido colocada contra a parede e não soube se defender. Em tais casos, é importante trabalhar questões que aumentem a confiança da criança, como envolvê-la em atividades como esportes, e garantir carinho frequente por parte dos responsáveis.
Também existem crianças que mentem por dissimulação. Elas não necessariamente temem um castigo ou sentem insegurança ao se expressar, mas mentem conscientemente e de forma intencional, o que muitos consideram “mentir por maldade”. Esse tipo de mentira pode ter raízes mais profundas, mas na maioria das vezes está relacionado aos exemplos que a criança presencia em seu ambiente. Se ela observa os próprios pais mentindo constantemente, inclusive para ela mesma, é provável que ela passe a acreditar que a mentira é uma forma válida de construir a realidade que considera mais favorável ou confortável. Mais uma vez, é responsabilidade do adulto refletir sobre suas próprias ações e entender que sua forma de agir influencia diretamente o comportamento da criança. Especialmente durante a infância, o aprendizado ocorre por meio da imitação das ações dos outros.
Em muitos casos, é necessário que a criança receba acompanhamento profissional especializado, que irá trabalhar com ela questões relacionadas a mudanças, autoconfiança e formas adequadas de se expressar. Além disso, alguns adultos responsáveis por essas crianças podem precisar buscar orientação e acompanhamento para compreender quais atitudes deles impactam negativamente a vida da criança.
E você, pai ou responsável que está lendo este artigo, se identificou? Saiba que ao mudar algumas atitudes, buscando compreender melhor a criança e oferecendo afeto, carinho e segurança, as chances de as mentiras diminuírem são enormes. Durante esse processo, é importante lembrar que você também já mentiu, e isso não é o fim do mundo. Para ajudar a criança, o adulto deve, em primeiro lugar, tentar compreender os motivos das mentiras, sem julgamentos, pois com paciência e calma, é possível modificar os comportamentos de forma positiva.
A psicanálise é uma ferramenta excelente para identificar as causas das mentiras. Estou aqui para auxiliar em todo esse processo de compreensão, mudança e transformação!
Se precisar de ajuda, conte comigo!