Ganhar um torneio esportivo na escola, receber uma promoção no trabalho, conhecer um local que você sempre quis conhecer, não ter recebido aquele presente que desejou no natal quando criança ou uma briga que você teve com um primo durante um fim de semana na viagem de família. Todos esses acontecimentos, felizes ou não, podem trazer consigo um sentimento que pode moldar o teu presente, influenciando diretamente a sua confiança e ações de hoje. Será que os acontecimentos do passado têm esse poder sobre você?
Todos temos uma relação estreita com o passado, afinal, é ele quem nos fornece a maior parte da compreensão que temos sobre as coisas, a chamada experiência de vida. Todavia, algumas pessoas baseiam sua confiança e forma de ver as situações do presente em acontecimentos do passado, muitos deles, que remontam à uma época bem antiga.
Em uma roda de amigos é divertido falar dos nossos sucessos antigos, como aquele torneio vencido na escola durante a sexta série do ensino fundamental. É uma lembrança boa e é bom recordar esse fato, mesmo sendo um acontecimento distante. Mas a questão é justamente essa: foi um fato real, mas distante.
Muitas pessoas têm como base de sustentação de suas confianças e autoestima fatos ocorridos há muito tempo em suas vidas, como se o acontecimento fosse um marco histórico e imutável de quem ela é. Podem ser tantos acontecimentos bons, como um título esportivo na escola, ou algo que a magoou, como uma briga com um familiar durante uma viagem à praia quando tinha 10 anos.
É comum as pessoas basearem suas ações do presente, interligando-as com acontecimentos antigos, que elas firmaram como capítulos importantes da própria história. O problema em se fazer isso é que a pessoa sabe que essas coisas não se sustentam e não são suficientes para determinar o sucesso ou fracasso de hoje. Ela sabe que, se ganhou um título esportivo na escola aos 10 anos, mesmo sendo o destaque do time, esse fato não a faz ser boa atualmente nas demais atividades, nem mesmo em outras disputas esportivas. Tendo intimamente a percepção dessa realidade e se conectando às lembranças do sucesso ocorrido no passado, a pessoa pode preferir não tentar nada novo, pois não quer desfazer a imagem de glória que teve anteriormente. Em se tratando de lembranças ruins, a pessoa pode não agir por receio de ter outra experiência similar.
Em ambos os casos, um acontecimento antigo, mesmo a pessoa já tendo mudado muito de lá para cá, determina a confiança dela até os dias de hoje. No fundo essa pessoa sabe que isso é apenas uma muleta emocional para não enfrentar o presente. As coisas do passado devem ficar no passado, principalmente quando são acontecimentos isolados. Pode-se lembrar e comentar sobre eles, principalmente se forem lembranças felizes, entretanto, não deve-se ter esses acontecimentos como base de quem se é.
Isso não quer dizer que todo acontecimento do passado não deve ser levado em conta no presente. A diferença é se você baseia a confiança num fato isolado ou em uma realidade de constância. Se a pessoa que ganhou um título esportivo na época da escola e continuou treinando, competindo e vencendo disputas, é natural que ela olhe para os sucessos do passado com confiança no presente, pois ela continuou se dedicando àquela prática e tem um trabalho consistente que vem até hoje. Ela não se baseia num acontecimento isolado, mas em uma realidade concreta de esforço, melhora e dedicação.
E você, será que alguns acontecimentos do passado são um tipo de prisão que você vive sem perceber? É sempre possível mudar! O passado é bom e deve ser recordado, até mesmo celebrado em algumas ocasiões, mas ele não pode nunca, principalmente fatos isolados, determinar a sua confiança e autoestima no presente!
Quando se tem consciência da realidade do passado, ou seja, o que causa desconforto ou sofrimento no presente, é possível se libertar das amarras que te prendem a este passado. Isso é chamado processo de cura.