Vivemos em tempos de excesso. Excesso de informação, de cobrança, de opiniões e, não por acaso, de ansiedade. Muitas pessoas se sentem sobrecarregadas, como se estivessem sempre em dívida com o mundo por não conseguirem acompanhar tudo, saber de tudo ou ter uma opinião formada sobre todos os assuntos. A ansiedade que nasce desse cenário não é apenas emocional. É social, é cultural, é cotidiana.
Existe uma crise silenciosa de crenças. Não necessariamente por falta delas, mas por pressão para defini-las. A sociedade nos empurra para tomar posições o tempo todo. Política, religião, estilo de vida, futebol, alimentação, comportamento… tudo parece exigir uma resposta pronta e definitiva. E não basta saber um pouco, pois é como se o mundo te obrigasse a ser especialista em tudo. Mesmo quando você só quer viver sua vida em paz.
A SOCIEDADE DA OPINIÃO INSTANTÂNEA
Nas redes sociais, esse fenômeno se intensifica. Basta abrir qualquer plataforma para ser bombardeado por notícias, debates acalorados, julgamentos e certezas alheias. Ser neutro, hoje, parece um ato de rebeldia. O silêncio virou quase uma ofensa. Não ter uma opinião clara sobre algo é, frequentemente, motivo de crítica. E ainda mais grave: ter uma opinião diferente do grupo em que se está inserido pode causar desconforto, exclusão ou até perseguição.
A ausência de uma posição definida passa a ser lida como ignorância, alienação ou fraqueza. Termos como “em cima do muro”, “desinformado” ou “sem visão de mundo” são jogados com facilidade, como se refletir antes de opinar fosse um erro, ou como se simplesmente não ter interesse sobre um tema fosse sinal de inferioridade.
E assim, criamos um ambiente onde não há espaço para a dúvida. Onde a curiosidade é substituída por pressa, e a escuta, pela disputa. Onde a conversa vira confronto, e a divergência, uma ameaça.
REDES, OPINIÕES E INVISIBILIDADE SOCIAL
Além disso, vivemos um paradoxo curioso: nunca estivemos tão conectados e ao mesmo tempo, tão propensos à invisibilidade. Quem não está em pelo menos uma rede social parece não existir. Tornou-se muitas vezes difícil encontrar pessoas presencialmente, e o contato digital se tornou o principal meio de comunicação. Neste contexto, quem não participa do jogo das opiniões, das postagens, das hashtags e das polêmicas, acaba sendo visto como “desligado” ou “incomunicável”.
Essa exigência de presença e posicionamento constante alimenta um ciclo de ansiedade. Como acompanhar tudo? Como responder a tudo? Como ter certeza sobre tantos assuntos? A mente entra em colapso tentando dar conta da avalanche de temas, debates, exigências. É uma carga emocional que se renova todos os dias.
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O PESO DE TER CERTEZAS O TEMPO TODO
A ironia é que boa parte da nossa ansiedade vem justamente da obrigação de ter certezas. E certezas muitas vezes impostas. As pessoas te empurram crenças, valores e rótulos, como se a vida fosse uma prateleira de verdades definitivas onde você é obrigado a escolher logo, antes que alguém decida por você.
Em uma roda de conversa no trabalho ou num almoço de família, não saber sobre determinado tema já vira motivo de estranhamento. A cobrança não é velada, ela vem em forma de comentários, olhares ou até risadas. “Como assim você não viu isso?” “Você não leu sobre aquilo?” “Nem sabe o que está acontecendo?” Em pouco tempo, você se sente deslocado, julgado, pequeno.
E mesmo quando você tem uma opinião, se ela for diferente da do grupo, o incômodo é outro. A pressão muda de nome, mas continua ali, empurrando você a se adaptar, a rever, a suavizar o que pensa. O ambiente nem sempre acolhe o diferente. Muitas vezes, exige que você apenas concorde, ou se cale.
E SE A VERDADEIRA SABEDORIA FOR A DÚVIDA?
Talvez o que mais nos falte hoje seja a humildade de dizer “não sei”. Ou a liberdade de dizer “ainda estou pensando a respeito”. Ninguém é menos por não ter uma resposta na ponta da língua. A vida não é um quiz de rede social. Algumas perguntas podem, e devem, ficar em aberto.
A capacidade de refletir antes de formar uma opinião é sinal de maturidade. A disposição de escutar mais do que falar é um exercício de empatia. E o direito de simplesmente não se interessar por um assunto também faz parte da autonomia de cada um.
Talvez o caminho para reduzir a ansiedade esteja, justamente, em aceitar a ausência de certezas. Em nos permitir ser seres em construção. Em desconfiar das pressões externas que exigem posicionamentos rápidos, simples e definitivos para problemas complexos.
LIBERDADE TAMBÉM É NÃO SABER
Você não precisa ter opinião sobre tudo. Não precisa se posicionar em cada debate. Não precisa se justificar por não querer entrar em certas discussões. Isso não te torna menos inteligente, menos politizado ou menos relevante. Te torna apenas humano.
A verdadeira paz pode começar quando deixamos de tentar agradar a todos, de corresponder a todas as expectativas e de carregar certezas que não nos pertencem. Às vezes, a resposta mais honesta é o silêncio. E a escolha mais saudável é a dúvida.