Para a Psicanálise, o homem é sujeito da falta, logo, se algo falta, cria-se um desejo. Para preencher essa falta, procura-se um objeto externo na tentativa de se fazer completo.
Por objeto podemos entender qualquer coisa que ofereça ao sujeito uma satisfação e um prazer.
Freud, ao escrever sobre a sexualidade infantil, reconhece a existência de uma forte curiosidade infantil. Refere-se a um “instinto de saber”, relacionando-o ao momento no qual a criança se questiona à respeito do enigma: “de onde vêm os bebês?”. A criança é vista pela psicanálise como um investigador ativo, um pequeno cientista que, desde a mais tenra idade, investiga, explora, questiona, se pergunta e formula hipóteses. Esse processo de intensa investigação se direciona inicialmente e mais intensamente, para seus primeiros objetos de desejo: seu próprio corpo, o corpo da mãe e de outros que a circundam. Indagam a respeito do nascimento dos bebês, das relações sexuais entre os pais, do papel paterno na concepção e das diferenças sexuais anatômicas entre meninos e meninas.
A atividade intelectual passa a ser intensa e envolvida em forte carga emocional que circunda as temáticas investigadas. Para Freud, o desejo de saber e de aprender origina-se dessa curiosidade em torno da sexualidade.
Dependendo do modo como essa curiosidade primeira é acolhida pela família pode-se originar, já aí, intensa inibição e ansiedade ligados aos processos de investigação intelectual. É importante notar como aquilo que se poderia dizer propriamente “intelectual” já se apresenta desde seu início vinculado indissociavelmente ao afetivo-relacional. As fantasias infantis cerceiam terrenos de alta repressão e geram com isso tensões adicionais (FREUD, 1910).
A repressão dessa curiosidade infantil pelos adultos, muitas vezes, demonstra a incapacidade que tem em lidar com suas próprias questões advindas do processo de elaboração de sua sexualidade.
A relação entre curiosidade e desenvolvimento psíquico da criança é marcada por um longo processo de descobertas, formulação e reformulação de hipóteses de entendimento de si mesma e do mundo, permeados pelas angústias e ansiedades do “não saber”. O que se desenrola no plano emocional é estritamente acompanhado por processos de construção cognitiva de entendimento de si e do mundo circundante.
Segundo Melanie Klein, pode-se dizer que dessas fantasias e curiosidades entre o sujeito e objeto, surge uma força pulsional e como o primeiro objeto é a mãe e o seu corpo, o desejo acaba aparecendo aí, pois nessa relação há uma falta (separação após nascimento, desmame, o sentimento de sentir-se castrado e a repressão do incesto no C. de Édipo).
Ao chegar ao período escolar, a criança teve que percorrer todo um caminho de construção de “saber de si mesma” e de desenvolvimento de capacidades sublimatórias (redirecionamento de energia para um outro objeto) antes que pudesse destinar sua energia para o conhecimento do mundo de representação da escrita.
A educação seria então a forma através da qual podemos manter a pulsão em seus trilhos, aproveitando sua energia para desenvolver projetos culturais. A sublimação, decorrente da repressão da sexualidade edípica, permite que toda a energia até agora dirigida, primordialmente, para conteúdos sexuais, torne-se dessexualizada e possa ser investida em fins “socialmente aceitos” como a aprendizagem e o conhecimento, enquanto satisfações substitutivas.
Vemos as crianças, quando entram na latência (período entre 5 e 12 anos), reasseguradas por um superego consolidado, oscilarem entre o cumprimento do desejo ou a observância das interdições (proibições). O trabalho mental torna-se possível na medida em que há um espaço temporal entre o desejo e a efetiva descarga de energia (pulsão). Tal elaboração é assegurada por um ego capaz de pensar, de adiar o cumprimento de um ato e de antecipar as condições em que este ato é possível, capaz também de memorizar, de avaliar o que convém e o que não convém, quanto aos diferentes fatores em jogo.
Na latência toda, esta estrutura é agora dirigida a um novo objeto: a aprendizagem da leitura e da escrita. O acesso ao mundo letrado dos adultos é um novo desafio e uma nova paixão e a criança utiliza todas as suas possibilidades nesta nova tarefa, usando sua própria metodologia. Se foi capaz de elaborar teorias a respeito dos conteúdos sexuais, porque não o seria agora em relação aos conteúdos da escrita?
A reflexão de Lacan é marcante, no sentido de que “o desejo só pode surgir na relação com o Outro”. Desejo este que “se inscreve sempre entre a demanda e a necessidade”. Portanto, o sujeito é tentado a buscar a significação de seu desejo. ”Reconhecer a falta no outro como algo impossível de ser preenchido ,atesta que a criança aceita a falta no processo de seu próprio desejo”. É por isso que a educação é incompleta: a busca pela satisfação e gozo pleno perdido na relação mãe-bebê (desde o nascimento e desmame) é impossível de ser reconquistada e preenchida por um objeto real. É uma busca incessante.
Os processos edípicos, centro da dinâmica afetiva, tem sua repercussão no processo de construção do conhecimento de si e do mundo, permitindo uma maior ou menor elaboração cognitiva a medida em que a criança possa passar de um momento mais narcísico e dependente para um momento mais voltado para o outro e independente.
O Complexo de Édipo é muito importante porque caracteriza a diferenciação do sujeito em relação aos pais. A criança começa a perceber que os pais pertencem a uma realidade cultural e que não podem se dedicar somente a ela, porque possuem outros compromissos. A figura do pai representa a inserção da criança na cultura, é a ordem cultural e também a representação da Lei que se inscreve no inconsciente da criança como proibição do incesto que impede o acesso direto à mãe, objeto de seu desejo. Por isso, nessa fase, a criança desenvolve mecanismos mais racionais para sua inserção cultural, tendo que suas energias são sublimadas para um outro foco, ou objeto de prazer (a aprendizagem).
Fonte: www.apoiopsicologico.psc.br