
Exercer influência com os filhos
6 de outubro de 2025Os limites da inteligência artificial no cuidado com a saúde mental

Nos últimos anos, o avanço das inteligências artificiais generativas tem chamado cada vez mais a atenção. Ferramentas de texto e, em especial, os chats de comunicação se tornaram altamente desenvolvidos, muitas vezes produzindo respostas que soam como se fossem dadas por um ser humano. Não é raro que usuários desses serviços relatem a sensação de “estar conversando com alguém de verdade”, o que desperta tanto curiosidade quanto cautela.
Esse fenômeno abriu espaço para um uso inesperado: muitas pessoas têm recorrido a IAs de chat por texto como se fossem uma espécie de terapia. Ao encontrar acolhimento em respostas rápidas e, aparentemente, bem formuladas, alguns enxergam nessas ferramentas uma alternativa para conversar sobre sentimentos, angústias e dilemas pessoais.
No entanto, apesar dessa aparência de proximidade e cuidado, é fundamental compreender os limites desse recurso e perceber onde ele se distancia de um acompanhamento psicológico real.
Por que não é terapia de verdade?
Apesar de parecer convincente, essa “terapia” com IA não é real. O que a inteligência artificial oferece é apenas a recombinação de informações aprendidas a partir de bancos de dados. Embora sofisticadas, essas respostas são limitadas, podem ser conflitantes e frequentemente apresentam erros. A IA não possui experiência humana, nem conhecimento próprio, apenas padrões reproduzidos.
Outro ponto importante é que a IA tende a não confrontar quem a procura como se fosse um paciente. Seu funcionamento a leva a concordar com o usuário, oferecer respostas neutras e evitar tensões com a pessoa que faz o uso da ferramenta. Isso significa que a pessoa dificilmente é desafiada, provocada a refletir de maneira mais profunda ou conduzida para fora da sua zona de conforto. Ao contrário, a IA costuma reforçar a linha de raciocínio trazida pelo próprio usuário, mantendo a conversa em um ciclo previsível.
Além disso, a IA só consegue responder ao que está escrito, ao que foi fornecido pela pessoa que escreveu. Ela não acessa os silêncios, não percebe hesitações, mudanças no tom de voz, expressões de ansiedade ou de medo. Não lê a postura corporal, nem os gestos que dizem, em muitas oportunidades, muito mais do que as palavras.
Entre em contato para saber mais e marcar uma consulta!
A diferença do olhar humano

É justamente aí que entra a força do trabalho humano em terapia. O profissional de saúde mental, seja psicólogo, psicanalista, psiquiatra ou terapeuta, é capaz de perceber não apenas o que é dito, mas também o que é deixado de lado. Ele identifica padrões no discurso, reconhece contradições, compreende os sinais emocionais que aparecem no corpo e na fala.
Mais do que isso, o profissional conduz a pessoa a refletir sobre aquilo que ela não quer ou não consegue enxergar sozinha. A prática terapêutica envolve confronto respeitoso, empatia verdadeira e direcionamento para além da narrativa imediata. A terapia se constrói no vínculo, na escuta ativa, na confiança e na capacidade de ajudar a pessoa a lidar com suas próprias questões.
Esse processo acontece em nuances, no gesto, no olhar, no silêncio, na escolha de uma palavra. E são justamente essas nuances que escapam totalmente ao alcance da inteligência artificial.
Benefícios e limites da IA
Isso não significa que a inteligência artificial não tenha benefícios. Pelo contrário, ela é uma ferramenta valiosa em muitas áreas. Pode auxiliar em estudos, apoiar pesquisas acadêmicas, organizar ideias, produzir textos de apoio, revisar conteúdos e até ampliar o acesso a informações de qualidade. Nesse sentido, seu uso é extremamente positivo quando bem direcionado.
Mas no campo da saúde mental, o alerta é necessário. Substituir a terapia humana por interações com IA pode ser ineficaz e até prejudicial em médio e longo prazo. A pessoa pode acreditar que está se cuidando quando, na verdade, está apenas mantendo conversas superficiais que não tocam as raízes de suas dores. Pior, pode deixar de buscar ajuda real, postergando o enfrentamento de situações que exigem acompanhamento profissional.
O cuidado verdadeiro
A saúde mental não deve ser entregue a um software. Por mais que a tecnologia avance, ela não compreende as sutilezas humanas que estão além dos algoritmos. E é justamente nessas sutilezas que acontece a maior parte do processo terapêutico. O profissional de saúde mental reúne conhecimento científico, prática clínica e, acima de tudo, empatia, algo que nenhuma máquina pode reproduzir.
Que possamos reconhecer o valor da inteligência artificial, mas sem romantizar seu papel. IA é ferramenta, não terapeuta. Para o cuidado genuíno da mente e das emoções, ainda é o olhar humano, sensível e capacitado, que vai transformar vidas.



